sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Tracy Chevalier: O Azul da Virgem e A Dama e O Unicórnio

Postado originalmente em 05/02/2009

Você pode nunca ter ouvido falar da autora, mas talvez conheça o filme "Moça com brinco de pérola", baseado no livro homônimo, que tornou Chevalier conhecida em todo o mundo.

O filme é muito bonito e realmente transmite o clima do livro. A Scarlett Johansson me parece uma Griet perfeita. A atriz que faz a Tanneke é a própria The Milkmaid (meu quadro favorito de Jan Vermeer). Tem cenas filmadas em Delft, onde Vermeer viveu. Até a estrela no chão da Praça do Mercado, onde Griet dá voltas, perdida em suas indecisões, está lá, meio desbotada, no filme. Mas é no livro que a autora garante uma viagem extraordinária pelas sedas, pérolas, luzes e cores do imaginário de Vermeer (aliás, li aqui que se pronuncia "férmir"), e pelas sensações e transformações de uma jovem protestante holandesa, que trabalha como empregada na casa do artista, e se torna irremediavelmente presa dos mistérios da arte e das intrigas da família.

Tracy Chevalier nasceu nos Estados Unidos e vive na Inglaterra. Ela cria histórias sobre mulheres, que, geralmente, vivem em épocas passadas. Tracy possui um texto esplêndido, além de caprichar no que diz respeito à pesquisa e reconstituição de época.

O AZUL DA VIRGEM

O Azul da Virgem, de Tracy Chevalier
O Azul da Virgem, de Tracy Chevalier

Esse é o primeiro livro da Tracy. É sobre duas mulheres em tempos diferentes, que o leitor percebe aos poucos serem descendentes uma da outra.

A ruiva Isabelle du Moulin vive no século 16, na França. Sua família torna-se protestante e muda-se para a Suíça. Mas a força ancestral da Virgem ainda assombra o coração da jovem huguenote. E nos anos 90 vive a parteira americana Ella Turner, que muda-se para a França, onde o marido acaba de aceitar um emprego. Investigando as origens de sua família (os Turner ou Tournier) pelo interior da França, Ella vai aos poucos se aproximando da vida da antepassada Isabelle.

Ao alternar os capítulos entre Isabelle e Ella, Tracy coloca o leitor como o observador de um labirinto, em que as personagens caminham de entradas (e tempos) diferentes, atraídas para um mesmo ponto obscuro. Tracy desde o início já manda bem. É uma leitura vertiginosa. Daquelas para um feriado chuvoso de 3 dias, em que você não consegue parar de virar as páginas.

A DAMA E O UNICÓRNIO

Agora Tracy volta a falar de obras de arte e inventa uma história maravilhosa em torno do famoso conjunto de tapeçarias do final do século 15, que hoje encontra-se exposto no Museu da Idade Média, em Paris. O pintor miniaturista e mulherengo Nicolas des Innocents recebe uma encomenda para a qual cria o motivo da Dama e o Unicórnio. Mas acaba sendo obrigado por seu cliente, Mr. Jean Le Viste, a partir de sua querida Paris rumo a Bruxelas, onde irá acompanhar a confecção da série de tapeçarias com o tema que criou.

A Dama e o Unicórnio, de Tracy Chevalier
A Dama e o Unicórnio, de Tracy Chevalier

E o romance segue com a trajetória e as motivações do artista, bem como as mulheres que o inspiraram. Há descrições detalhadíssimas das técnicas de tecelagem da época. Dos millefleurs. Confesso que às vezes me perdia tentando entender exatamente como os tecelões do século 15 manipulavam aqueles teares pesados e complicados, com suas manivelas, urdiduras, liças, cilindros etc. Sem falar na preparação dos fios e na dificuldade de obter a cor exata com os processos de tintura. Enfim... era um trabalho hercúleo, demorado e que quase esgotava física e financeiramente os artesãos.

Tracy cria uma trama envolvente e uma série de personagens apaixonantes. E, claro, desperta no leitor uma tremenda curiosidade de ver as tapeçarias de perto e imaginar essa e outras histórias para as pessoas que as criaram.

A Dama e o Unicórnio é o quarto livro da autora, posterior ao Moça com Brinco de Pérola. Ainda falta ler Anjos Caídos (2001) e Burning Bright (2007).

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