sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

ATONEMENT (DESEJO E REPARAÇÃO)

Postado originalmente em 01/02/2009

Escrever é um ato de transformação. Pode transformar intimamente quem escreve, mas também transfigurar a realidade à sua volta.

Em Desejo e Reparação, o som metálico da máquina de escrever quase se camufla na trilha sonora e serve de marcação das cenas em que a realidade da trama começa a se fragmentar no delírio de uma pequena escritora. Sua imaginação e seu forte desejo de encontrar um lugar no que acontece ao seu redor, empurram a personagem para o redemoinho do dilema entre culpa e honestidade.

A propósito da honestidade e da realidade
A propósito da honestidade e da realidade

O romance de Ian McEwan está na minha lista de pendências literárias. O filme do Joe Wright é um dos melhores do ano passado. Parecia um novo épico romântico passado na segunda grande guerra. Porém, é muito mais do que isso. Há uma forma de contar a história totalmente original e intrigante.

O diretor repete um exercício que adora: filmar um longo plano-sequência. Em seu filme anterior, Orgulho e Preconceito (acho que é por isso que o título original Atonement, que significa reparação ou expiação, virou Desejo e Reparação, como se fosse uma tendência do cineasta por títulos com 2 palavras...), Joe mostra a personagem Elizabeth Bennett (Keira Knightly, que também faz Atonement) passando em frente à casa da família e a câmara adentra a sala, passeia por vários cômodos, rodopia e reencontra Lizzie passando por outra porta. O efeito é muito bonito e retrata o clima bucólico da vida na Inglaterra campestre do final do século 18.

Em Atonement, ele repete a dose numa sequência em que soldados ingleses se encontram numa praia onde aguardam resgate em meio a um teatro de barbaridades. A câmara passeia em tomada ininterrupta por mutilados que gemem, loucos que gritam, bêbados que jogam e riem.

Mas todas as situações delirantes ou não das belas imagens de Atonement se confundem, entram e saem continuamente da imaginação de uma personagem. É ela quem manipula a trama em seu contexto real e imaginário. É muito doido.

No mais, o filme tem atores ótimos, como a Keira Knightly, James McAvoy (gosto cada vez mais dele) e a lendáriaVanessa Redgrave.

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