domingo, 27 de dezembro de 2009

JUNO


meninas não vêm com manual
meninas não vêm com manual

Postado originalmente em 02/01/2009

Adolescentes não vêm com manual, sabe?

E não há uma ordem certa dos fatores para construir uma mulher adulta... assim como não existe mulher adulta o suficiente para ser mãe.

Juno conta uma história muito singela sobre isso. Qualquer hora é hora. Pode ser com 16 ou 80 anos. Sempre haverá uma nova aventura, um medo de levantar o tampa do desconhecido. Mas a Juno nos deixa orgulhosas de ser garotas.

MY BLUEBERRY NIGHTS

Postado originalmente em 02/01/2009

algumas tortas e um beijo
algumas tortas e um beijo

Sonhar pode não custar nada. Ou só R$10 de ingresso numa quarta-feira.

Fujo do título brasileiro porque é muito mané, mas é esse aí da imagem.

A doce Nora Jones (a própria cantora mesmo) afoga as máguas com tortas de blueberry (mirtilo) num bar do Jude Law. Ai, ai... Ele e a direção do Wong Kar-Wai são garantia de encantamento.

E é um daqueles filmes bons de rever em pedaços. Reprisava bastante na TV por assinatura. Então um dia você vê só o início, em outro a viagem pelos EUA e outra hora a parte final. Tem uma trilha legal também, com algumas canções da Nora.


ESTÔMAGO

Postado originalmente em 02/01/2009

O melhor do ano
O melhor do ano

Esse é o melhor do ano. É a história mais genial de todas. Sei lá, desde o Cidade de Deus que não vejo um nacional tão bom.

Como boa filha de pau de arara, ri e chorei com a historia do Raimundo "Alecrim" Nonato, um cara da Paraíba que chega em uma cidade grande e conquista meio mundo pelo estômago. No fogão do restaurante ou do presídio, Alecrim cozinha também sua identidade e seu lugar no mundo.

Os atores são maravilhosos, principalmente o que faz o personagem principal (João Miguel) e o que encarna o Bujiú (Babu Santana), líder da cela do presídio em que o Alecrim foi parar.

um crime de tão saboroso
um crime de tão saboroso

Manja só esse diálogo.

NONATO: É gorgonzola! Esse queijo tem esse nome por causa do nome da cidade onde ele foi inventado, na Itália, ali bem pertinho dos Estados Unido...

BUJIÙ: Ô Alecrim, esse gorgonzola pode ser o queijo do caralho que for, meu irmão, tu pode fazê o que quiser com ele, mas esse negócio não vai ficar aqui dentro nem fudendo!

O site do filme tem um super conteúdo com vídeos, entrevistas etc. Destaque para o livro de receitas do Alecrim.

IRON MAN


O mais devertido
O mais devertido

Postado originalmente em 02/01/2009

Esse é o melhor filme baseado em HQ que já vi. Olha que gosto muito do X-Men1, mas o Iron Man veio na medida certa. A história é enxuta e inteligente, sem hipocrisias ou pieguices em relação às guerras no oriente médio, indústria armamentista e terrorismo. Tem uma concepção visual fabulosa. Mesmo lembrando o Ultraman em algumas partes (hehehe). Destaque para as seqüências de testes no laboratório do Tony Stark e a trilha sonora (viva o rock'n'roll!!!!).

E o melhor de tudo, é claro, o Tony Stark/Iron Man é o Robert Downey Jr. Ele é tudo de tudo de tudo. Oh meu Deus, que bom viver e ir ao cinema.

Sobre a Cegueira - parte 2

Originalmente postado em 30 de Dezembro de 2008

O chato de manter um blog é não ter tempo. Quer dizer... sempre há tempo. Mas um tempo limitado. Com prazo para entregar o trabalho de conclusão da pós, correria de fim de ano no trabalho para poder ter férias e, então, poder escrever mais no blog, enfim, o tempo vai ficando mais limitado.

E o chato também é que a gente esquece. Perde o fio da meada. Eu sei lá o que eram as outras duas idéias que complementavam o filme Ensaio sobre a cegueira. Não lembro direito, mas vou tentar achar um caminho alternativo.

Duro de Matar 4.0. O filme esteve em cartaz, acho que no ano passado (2007), mas eu só vi na TV em outubro deste ano.

OK, vamos lá. O que tem a ver com a cegueira do outro filme/livro? Bom, eu me coloco a seguinte pergunta: como viver sem informações e/ou sem conexões? Digo, e se as invasões bárbaras, que estão detonando Roma, agirem para valer como no filme do Bruce Willis e cortarem nossas conexões de informação, energia, telefonia, transporte e tudo mais que uma boa parte da humanidad não consegue se imaginar sem? Os que podem respirar aliviados por possuir seus cinco sentidos em perfeito funcionamento poderiam pensar: o que adianta ver, ouvir etc. e viver isolado? Recuar alguns milhares de anos de conquistas tecnológicas e viver privado de luz elétrica, automóveis, telefone, televisão, rádio... Internet.

Bom, o cara aqui da esquina da minha rua, vive quase sem essas coisas todas. Ele passa o dia sentado na calçada, debaixo de uma marquise, escrevendo coisas com caneta e papel. Sei lá como ele arruma o material. Mas ele vive ali, dependendo da luz natural ou dos postes da rua, filando cigarros, comida e banheiro dos botecos ao redor. Ele escreve um monte de coisas e fica lendo em voz alta. Não entendo nada do que ele diz. Às vezes, me parece que fala inglês. De vez em quando ele some e reaparece de banho tomado e roupa nova. Com tudo isso, acho que ele está mais adaptado a viver na "cegueira". Mais do que eu, por exemplo.

E em muitas localidades das Américas, África e Ásia, muita gente vive sem essas coisas. Dependem da maravilha proporcionada, com alguma sorte, pelo fogo, para se aquecer, cozinhar e iluminar ambientes. Se informam através do contato pessoal uns com os outros, pois mesmo livros, jornais e revistas são raros.

Penso que a cegueira pode representar simbolicamente a privação. Privação de toda e qualquer coisa. Privação imposta ou opcional. Ignorância, alienação, burrice, preconceito, loucura, cegueira, surdez, insensibilidade, preguiça, intolerância.

E você, está preparado para viver à margem da visão?

Sobre a Cegueira - parte 1

Originalmente postado em 21/10/2008

Vivi três experiências numa mesma semana, que se embaralharam e formaram uma idéia apavorante.

Julianne Moore guia os cegos pela terra do medo
Julianne Moore guia os cegos pela terra do medo

Primeiro fui ver o Ensaio sobre a cegueira, do Fernando Meirelles, sobre o livro do José Saramago. Bonito e angustiante do início ao fim. Saí do cinema enxergando e pensando tudo por uma lente branca leitosa de medo. Para quem conhece a obra do Neil Gaiman, autor da sérieSandman, o filme parece um retrato de Desespero. Uma mulher é "rainha" na terra dos cegos. Julianne Moore é a mulher do oftalmologista. Ele é um estudioso da visão. Ela confunde radicais gregos e latinos. Mas e daí? Ela vai ser a única a enxergar sobre a face da terra dos cegos.

Enfim... você já deve ter lido ou visto na TV algo sobre o enredo. A população mundial começa a ficar cega e ninguém sabe explicar ou conseguir a cura. A cegueira vira uma epidemia e os "infectados" vão sendo trancafiados e tratados literalmente como dejetos da civilização. Como em qualquer outra prisão, no mundo de horror dos cegos, estabelecem-se novos códigos sociais, com suas próprias leis, organização política, divisão de classes e valores morais-monetários. A mulher do oftalmologista esconde que não é cega ou finge que o é para ficar ao lado do marido. Acaba se tornando uma espécie de "anjo da guarda" dos cegos. Cuidando de todos, mas longe da "vista" deles. São muitas ironias e analogias ao comportamento coletivo da humanidade conflitante sobre suas crenças, preconceitos, transgressões, valores intelectuais.
Assisti à entrevista do Meirelles com a Marília Gabriela. Ele contou que oSaramago chorou ao final da projeção e que confessou sentir a mesma emoção de quando terminou de escrever o romance. Eu acho que o filme/livro é sobre inícios. Uma alegoria do horror diante das rupturas e das reviravoltas de muitas coisas.
Bom... Daí.... vou cair o nível da conversa para o filme do Bruce Willis Duro de Matar 4.0. Desculpe. É que o contexto justifica eu ter jogado o blockbuster americano na mesma panela. Ocorreu que o meu pavor reacendeu com mais essa fábula premonitória da guerra entre os hackers maus e os hackers bons. E a gente se f#*endo. Mas deixa essa para o próximo post.
Mais sobre...


Recomendações Top3
1) Filme Ensaio sobre a Cegueira, de Fernando Meirelles. Com Julianne Moore, Mark Rufallo, Alice Braga, Danny Glover, Gael Garcia Bernal. Inspirado no livro de José Saramago.
2) Livro/HQ "15 Retratos de Desespero", da coletânea Sandman: Noites Sem Fim. Autor Neil Gaiman, artistas Barron Sorey e Dave McKean.
3) Filme Duro de Matar 4.0. Juro que pra mim fez sentido...

Speed Racer, o filme-animado

Speed Racer, o filme-desenho "animado" pelos irmãos Wachowski Speed Racer, o filme-desenho

Originalmente postado em 28/09/2008

Depois de assistir ao Speed Racer dos irmãosWachowski (Matrix, V de Vingança), fiquei pensando na noção de que filme e animação são a mesma coisa. Afinal, o que é o cinema (em seu conceito técnico original) se não uma animação de fotogramas na velocidade de 24 por segundo?

Ok. Essa abordagem é velha e batida, né? Então vou me aventurar pela diversão e originalidade do filme.Speed Racer é um desenho animado com algumas pessoas de verdade coladas em cima e algumas cenas de live action pura. De Dick Tracy a Sin City e 300, o cinema evoluiu na forma de transpor o barato visual dos quadrinhos para as telas. E esse Speed Racerconsegue reproduzir incrivelmente a estética visual do desenho animado. Até o efeito de borrado da imagem quando os carros derrapam é igual ao original. E quando Speed sai do carro e a câmera dá aquela voltinha que nem a abertura do desenho? É muito igual, cara. Só falta ele fazer a pose com os braços (confere no vídeo abaixo).

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=k-qWv3vrg0c&hl=pt-br&fs=1]

Melhores momentos "igual ao desenho"
1) Gorducho e Zequinha (o moleque e o macaquinho são os melhores atores). Quando eles saem da mala do carro do Speed nas situações mais difíceis.. Saudades daquelas tardes com os desenhos apresentados pelo Capitão Asa....
2) O barulhiho do Mach 5 quando salta e rodopia pelos ares.
3) Speed saindo do carro.
E tem a cena fofa do Speed ainda moleque na escola desenhando a lápis carros de corrida no rodapé das folhas do caderno. Ele fica fazendo ruídos de motor de carro, enquanto pisa num acelerador imaginário e os desenhos no caderno ganham vida num pequeno filme de animação dentro do filme. Os Wachowski criaram uma peça de diversão familiar, mas o longa é ousado visualmente e transborda de afeição por um símbolo pop tão querido por diversas gerações.
filme reproduz fielmente a emoção das pistas da animação
Speed Racer: filme reproduz fielmente a emoção das pistas da animação
Por isso... vamos cantar.
Here he comes
Here comes Speed Racer
He's a demon on wheels
He's a demon and he's gonna be chasin' after someone.

He's gainin' on you so you better look alive.
He's busy revvin' up a powerful Mach 5.

And when the odds are against him
And there's dangerous work to do
You bet your life Speed Racer
Will see it through.

Go Speed Racer
Go Speed Racer
Go Speed Racer, Go!

He's off and flyin' as he guns the car around the track
He's jammin' down the pedal like he's never comin' back
Adventure's waitin' just ahead.

Go Speed Racer
Go Speed Racer
Go Speed Racer, Go!

* LINKS PARA SABER MAIS

Site oficial do filme Speed Racer

Site oficial do desenho animado Speed Racer

Mais coisas legais sobre Speed Racer

* RECOMENDAÇÕES TOP3

1 - Série animada Speed Racer (no Cartoon Network e em DVD)

2 - Filme Speed Racer (em DVD)

3 - Filmes dos irmãos Wachowski: Matrix (primeiro filme) e V de Vingança.


EVA YERBABUENA. O arrebatamento em gestos mínimos

Eva Yerbabuena

Eva Yerbabuena

Originalmente postado em 28/09/2008

Dança flamenca pode ser uma parada extremamente cafona. Aqueles vestidos cheios de babados estampados de preto com bolinhas vermelhas ou branco com bolinhas laranjas... Minha viagem à Espanha em 98 teve uma baita frustração com a apresentação de um suposto espetáculo de flamenco numa casa de shows no Parque del Retiro, em Madri. O que assisti foi um horrendo show tipo "Plataforma", com dançarinos atuando sobre um palco com linóleo e música pré-gravada. Enfim... falta uma viagem a Sevilha para ver flamenco de verdade.

O fato é que se estabeleceu um clichê sobre o gênero no imaginário da humanidade. Tem um balé do grupo francês Montalvo-Hervieu que apresenta um quadro muito engraçado com uma bailarina deflamenco e um outro carinha tentando acompanhá-la. Ela sapateia com raiva gritando "- Baila, hombre! Baila Baila!" Como se no universo da dança, as bailarinas deflamenco representassem a mulher temperamental, sempre com a sombrancelha erguida, a testa franzida, esperneando de raiva.

Mas eu acho uma das formas de arte mais refinadas que uma civilização pode produzir. Para começar, é resultado de manifestações culturais de diversas etnias. E ainda aglutina outras modalidades artísticas, pois conta com o som dos cantantes, guitarristas, palmas... Aliás os bailarinos flamencos também são músicos. Não só dançam como também "fazem" a música com o próprio corpo. Uma amiga bailarina me disse uma vez que dançar é "ser" música. E no flamenco, isso é mais extremo que no balé clássico. O sujeito dança ao sabor da música (assim como nos silêncios também...) e ainda usa as palmas, estala os dedos, bate as castanholas e os pés para produzir música.

E ainda tem a arte da confecção do vestuário. Os vestidos (nem sempre com babados...), acessórios de cabeça, sapatos, tudo compõe a cultura flamenca.

"Lo mejor de la noche es el silencio, porque en él se descubre, o que la luz no tiene la importancia que creemos, o que en la oscuridad la vida es más intensa. "

Essa frase, retirada do site de Eva Yerbabuena, é parte do texto que sumariza o espetáculo Santo y Seña, que sua companhia de dança apresentou no Theatro Municipal do Rio de Janeiro em maio deste ano. Eva é uma artista arrebatadora. Com movimentos mínimos e sob um feixe suave de luz, despeja toda uma tradição de séculos da rica cultura espanhola. Uma linhagem ancestral de grandes bailarinos, coreógrafos e músicos "fala" através de cada gesto de Eva. Ela dança nos sons e nos silêncios. Como se ouvisse algo vindo de um outro mundo ou um outro tempo. Seu corpo é o veículo mágico que nos transporta, através de sombras elegantes e misteriosas, à totalidade, à profundidade de uma cultura.

Eva Yerbabuena. Mistério dos gestos no silêncio.
Eva Yerbabuena. Mistério dos gestos no silêncio.

No programa do espetáculo, há um texto que ressalta o mistério da origem doflamenco. De fato, é uma prática misteriosa. Um dia desses, vou tomar coragem e me matricular numa aula para aprender um pouco dessa arte. É que tenho um certo medo... Tenho a impressão de que, quando ouvir a guitarra e as palmas tomando conta do ambiente, algum antepassado vai querer baixar por aqui... sei lá... É uma dança que compactua com os batimentos cardíacos e com o ritmo da respiração, e, ao mesmo tempo, subverte a ordem interna e externa do corpo.


[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=KLDSN-4iIms&hl=pt-br]

*LINKS PARA SABER MAIS

Site Oficial de Eva Yerbabuena

Site da companhia de dança Montalvo-Hervieu

Sobre a arte flamenca

*RECOMENDAÇÕES TOP3

1 - Dança - Companhia de Ballet Flamenco Eva Yerbabuena (vamos torcer para ela voltar sempre ao Brasil)

2 - Filmes - Trilogia Flamenca do diretor Carlos Saura (Amor Brujo, Bodas de Sangue e Carmen) com dois ícones da arte: Antonio Gades e Cristina Hoyos

3 - Dança - Falta assistir à Sara Baras. Essa é outra poderosa que aguardo ansiosamente! Veja no Youtube e no site oficial.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

The Brave One - Jody Foster é a justiceira que mata, grava e saboreia o som da vingança

Postado originalmente em 28/09/2008

The Brave One
The Brave One

Mais um daqueles filmes que ficam 2 minutos em cartaz nos cinemas do Rio... Valente (The Brave One) é o filme mais recente do irlandês Neil Jordan, que fez Na Companhia dos Lobos, Crying Game, Entrevista com o Vampiro etc. Com Jody Foster, Terrence Howard e Naveen Andrews (não é com o Stephen Rea!). A história se passa em Nova York. Foster é Erika Bain, uma produtora-apresentadora de um programa de rádio em que explora os sons da cidade e interage com ouvintes.

Um feio dia, passeando no Central Park com o namorado (Naveen Andrews, o Sayid, do Lost) e o cachorro, o casal sofre um ataque de bandidos que espancam barbaramente os dois. O namorado não sobrevive, mas Foster desperta do coma dias depois para descobrir a desgraça toda. Ela passa dias em depressão sem conseguir trabalhar ou mesmo sair de casa. Aos poucos retoma a vida, mas uma idéia de justiça com as próprias mãos começa a se formar no coração da moça, que compra uma arma e começa a atuar como uma justiceira anônima. Sempre que via um maluco barbarizando no metrô, num beco ou qualquer situação de covardia, a valente manda bala.
O detalhe interessante e "mó viagem" do filme é que ela carrega sempre o gravador que costuma usar para captar os sons de NY. E mais tarde, no meio da noite, deita no sofá com os fones e ouve as gravações, a voz ameaçadora dos bandidos, os tiros de sua pistola certeira. Vezes seguidas. Ela mal acredita no que fez.
Bem que ela se esforça para parar, mas as saídas à noite se tornam um vício. Acaba iniciando uma amizade tensa com um policial (Terrence Howard, ótimo ator e uma espécie de Benicio del Toro afro-americano), com quem colabora na busca dos criminosos que mataram seu namorado. Mas esconde o tempo todo que é o já famoso e misterioso vigilante que anda assassinando criminosos.
Há uns anos atrás (bem... deve ter uns 15 anos ou mais...), veio para o Rio uma exposição dos trabalhos de um pesquisador e produtor de rádio europeu que captava sons das cidades em todo o mundo. Sirenes, buzinas e apitos de guardas misturam-se aos passos de pedestres, cantos de pássaros e barulhos e chuva e de chafarizes em Paris, Nova York, Bombaim ou Colônia. Já trabalhei em rádio e sempre me impressiono com o poder da música, da voz humana, dos sons. É uma experiência de decodificação de signos muito diferente da leitura. Vai mais direto ao córtex cerebral. O som é um fenômeno físico. Partículas se deslocam e colidem conosco. Qualquer fonte sonora age como um instrumento de percussão, por assim dizer. Por isso, a experiência é mais intensa do que a imagem ou texto. Quando estamos em gestação num ventre, exercitamos a audição, que é o primeiro contato com a mãe. Sem a experiência ou memória dos sons, perde-se boa parte do barato de ler ou de assistir a um filme ou novela.
Enfim, dei uma volta na roda gigante e encerro para dizer que The Brave One é bonzão, pode ser visto em DVD, e acho que já saiu no pay-per view da Net.

* LINK PARA SABER MAIS

* RECOMENDAÇÕES TOP3

1 - Filme Valente (The Brave One)

2 - Rádio: programa da Lilian Zaremba na Rádio MEC FM (um dia escrevo um post a respeito)

3 - Youtube: Orson Welles narrando War of the Worlds

O novo Indiana Jones ou eram os deuses arqueólogos?

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Tenho dois amigos com opiniões opostas sobre esse novo filme do bom e velho Indy (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal).

Não detestei como um deles e concordo em parte com o parecer do outro. Segundo este outro, é sempre bom não alimentar expectativas. Por isso, me limitei a esperar somente uma leve diversão. E foi assim. Meu medo era acabar achando que o filme não precisava ser feito. Sabe como? Tipo o Jurassic Park 2. Não precisava não moço, obrigada. Mas não achei uma perda de tempo, não. É bem divertido e com idéias ótimas. O roteiro é que é medíocre. O mais fraco dos filmes do personagem, sem dúvida. Sei lá... Depois de tudo o que os 3 primeiros filmes representaram. Depois de tudo o que contribuíram para o cinema, esse novo filme pode ser colocado no mesmo nível de A Múmia ou A Lenda do Tesouro Perdido. É só mais um do gênero.

OK. Agora, depois de vários bla-bla-blas vem um spoiler gigante...
As melhores participações são do John Hurt e da Cate Blanchett. Porque são atores monstruosos de bons e podem brincar a vontade na tela que já garantem qualidade. O Harrison Ford e a Karen Allen não convencem, embora a situação dos personagens, mesmo sendo um clichê pra lá de batido, é engraçada. O clichê está na coisa do moleque ser filho do IJ. Todo mundo saca logo no início, mas what the hell! A cena da cobra na areia movediça é a mais engraçada e achei ótima a onda totalmente "Arquivo X" do filme.
É nisso que vou me deter e divagar um pouco, porque achei a idéia muito legal. Seria a humanidade descendente de extraterrestres colecionadores de artefatos multigalaxiais? Ou seja, seriam nossos ancestrais arqueólogos como o velho Indy, porém extraterrestres? Sabe aquela história da série Battlestar Gallactica (não a nova, a velha do final dos anos 70 mesmo, em que o Starbuck é homem)? Cada episódio abria com a voz do comandante Adama especulando que povos avançados como os egípcios, gregos, maias e astecas seriam descendentes de humanos extraterrestres (os passageiros da Gallactica). Por isso, alcançaram níveis tecnológicos superiores a outros povos contemporâneos. Será que os deuses eram ETs arqueólogos que formaram um panteão perdido em alguma floresta?
E tem essa lenda das caveiras de cristal que são assunto de alguns documentários da NatGeo, Discovery etc. É muito maneira a concepção toda da sala dos tronos dos deuses-reis ETs virar uma nave espacial. Achei duca. Pena que, sob a perspectiva atual, fique só como mais uma idéia de ficção-fantasia semelhante às outras.
Não acho que a dupla George Lucas / Steven Spielberg esteja enferrujada para criar idéias. Mas para realizá-las, acho que sim. Aquela cara do ET no final... Um ET bem ET mesmo tipo o do "telefone-casa" de 1983. No, no, no... cut! cut! cut!
Vamos ver se a nova série de TV do Indiana Jones sai mais ao gosto dos fregueses.

Links para saber mais
Site oficial
Canal oficial no Youtube

* Recomendações Top3
1 - Os três primeiros filmes da série Indiana Jones: Os Caçadores da Arca Perdida (1981), Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Não sei eleger qual é o melhor. Acho os três perfeitos. Tem uma caixa com os 3 filmes + extras em DVD à venda por aí.
2 - Galactica - Astronave de Combate. A velha série de TV do final dos anos 70. No canal TCM Classics passa. É bem a cara da época, quando Star Wars quebrou todos os paradigmas do gênero ficção científica. Quando foi lançada, exibiram o episódio piloto e um segundo longa-metragem nos cinemas. Assisti no falecido cine Condor Copacabana com som sensurround. Era uma assombro! (heehehehe). Achei essa página com ótimas informações sobre a série: www.infantv.com.br/galactica.htm
3 - Eram os Deuses Astronautas - livro de Erick Von Daniken que inspirou a série Galactica e também teve a idéia aproveitada no novoIndiana Jones. Li faz muitos anos, mas lembro que achei legal.

Titus

Violência, ódio, racismo, horror, vingança, escatologia, incesto, antropofagia, corpos dilacerados, sangue, tripas...

Não. Não é um filme de Quentin Tarantino, nem do David Cronenberg. Não é peça do Nelson Rodrigues, nem episódio do CSI. Que nada! É o velhoWilliam Shakespeare. Tudo isso já estava misturado em sua tragédia mais sangrenta, Titus Andronicus.

Titus. Filme é a adaptação da obra Titus Andronicus, com direção de Julie Taymor, estrelando Anthony Hopkins e Jessica Lange
Titus. Filme é a adaptação da obra Titus Andronicus, de Shakespeare, com direção de Julie Taymor, estrelando Anthony Hopkins e Jessica Lange

Há muitos anos queria ver o filme da Julie Taymor, baseado na peça do Shakespeare. Acho que nunca chegou aos cinemas por aqui. Nunca soube, pelo menos. O filme com roteiro adaptado e direção de Taymor, tem um elenco excelente: Anthony Hopkins (Titus), Jessica Lange, Jonathan Rhys Myers, Alan Cumming, Colm Feore, James Frain, Angus MAcFadyen e ótimos atores da montagem teatral realizada pela mesma diretora em 1994. Taymor é famosa pela montagem do Rei Leão, na Broadway. Dirigiu também "Frida" (sobre a vida de Frida Kahlo) e, recentemente, "Across The Universe", sobre a música dos Beatles (detalhes em outro post futuro). Sempre achei que a Julie fosse inglesa, mas na verdade é de Massachussets, estado americano onde as bruxas eram perseguidas e queimadas (mas essa é outra história...). Titus é sua estréia como diretora de cinema, foi filmado na Itália e na Croácia, e conta ainda com um time de primeira na direção de arte (Dante Ferretti) e figurino (Milena Canonero, indicada ao Oscar).

Suscessivos banhos de sangue
Não conheço o texto original. Só li alguns trechos para relembrar alguns diálogos do filme. Mas vou te contar... Shakespeare é uma pílula concentradíssima de cultura popular universal, violência, escatologia, incesto, antropofagia, non-sense, infâmia, barbaridade. You name it! Shakespeare tem tudo. Está tudo lá. Senhores Tarantino, François Ozon, Lars Von Trier, Nelson Rodrigues, John Waters e Peter Greenway agradeçam ao bardo de Stratford.
No complicado enredo (como ocorre naturalmente em grandes tragédias), o vitorioso general Titus Andronicus retorna a Roma depois de derrotar povos inimigos do Império. Traz como prisioneira Tamora (Jessica Lange), rainha dos Godos, e seus filhos. Titus ordena a morte do filho mais velho de Tamora como meio de compensar as mortes de romanos na guerra. Com isso, ganha o ódio eterno da rainha bárbara. Após a morte do Imperador, o general Titus declina a oferta de subir ao trono e favorece a ascenção de Saturnino, filho mais velho do soberano de Roma. Este decide se casar com Lavínia, filha de Titus. Mas os outros filhos do general se rebelam e fogem com Lavínia. Titus sofre o dilema de obedecer ao Imperador e punir seus filhos. E assim a tragédia caminha para uma série frenética de vinganças, chacinas, estupros e outras desgraças em suscessivos banhos de sangue.

O notável Aaron, the moor

Harry J. Lennix e Aaron, the Moor, no filme Titus
Harry J. Lennix e Aaron, the Moor, no filme Titus

O melhor personagem de Titus para mim é Aaron, o Mouro(vivido no filme pelo ótimo Harry J. Lennix). Aaron carrega a inteligência e amargura de um Iago, sob a pele negra de um Othelo. Brilhantemente inteligente e malvado ao ponto de roubar todas cenas em que aparece.

Algumas citações do malvado Aaron:

"Vou já, Andrônico. Em troca de tua mão, dentro de pouco receberás teus filhos.

(A parte.) A cabeça deles, quero dizer. Oh! como a idéia, tão-só, dessa partida me deleita! Os tolos que achem na bondade gosto; a alma Aarão tem tão negra como o rosto."

"Assassinos, parai! Quereis a vida tirar do próprio irmão? Pelos ardentes fachos do firmamento, que brilhavam quando foi concebida esta criança, na ponta desta minha cimitarra morrerá quem tocar no meu herdeiro, no meu primeiro filho. Jovens, digo-vos que nem o próprio Encélado com todos os filhos de Tifão, bando espantoso, nem Alcides glorioso e o deus da guerra. das mãos paternas tirarão a presa.

Vamos, vamos, meninos coradinhos, de coração vazio, variegados escudos de taberna, muros brancos de caiadura: a cor mais firme é a preta como carvão, pois não suporta as outras, pois toda a água do oceano as negras pernas do cisne não consegue deixar brancas, embora sempre as lave na corrente."


"Oh! por que é muda a raiva e surda a cólera? Não sou criança medrosa, para às baixas orações recorrer e, muito menos, para me arrepender dos crimes feitos. Cometera outros, dez mil vezes piores, se possível me fosse realizá-los. Se em toda a vida fiz uma ação boa, no fundo da alma, agora me arrependo."


Links para saber mais

O trailer oficial da Fox Searchlight

http://www.foxsearchlight.com/titus/trailer.mov

Para baixar a peça no site Domínio Público:

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraDownload.do?select_action=&co_obra=2359&co_midia=2

Titus - I Tell My Sorrows to the Stones
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=5_97LyhU9cg&hl=pt-br]

Titus

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=PkFvIEUehvw&hl=pt-br]

Confession of Aaron the Moor

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=vI93had4LIE&hl=pt-br]


* Recomendações Top3

1 - Titus (1999) - filme de Julie Taymor (em DVD).
2 - Ricardo III - filme de 1995, com Sir Ian McKellen no papel-título. Ambientado na 2ª Guerra Mundial, é uma adaptação excelente da peça de Shakespeare, com outro grande personagem terrivelmente cruel e inteligente.
3 - Looking for Richard - filme de Al Pacino. Meio documentário, meio ficção, o longa acompanha a produção de uma montagem de Ricardo III, com cenas de ensaios, discussões e leituras da peça. No elenco, Kevin Spacey, Winona Ryder e o próprio Pacino. Destaque para a cena em que Richard (Pacino) seduz Lady Anne (Wynona). Pacino é um assombro como o feioso, deformado e ambicioso príncipe que leva a cunhada no bico. É de cortar a respiração.

Alatriste: sangue e ouro na Espanha do século 17

Alatriste
Alatriste

Postado originalmente em 23/08/2009.

Aragorn vira herói espanhol. Capitão Alatriste é tipo um mosqueteiro do Alexandre Dumas, porém mais sujo e sangrento. Pois esse é um filme bem sangrento... sobre paixões sangrentas. Muitas gargantas cortadas.

Com direção e roteiro de Agustín Díaz Yanes, Alatriste é baseado no livro de Arturo Pérez-Reverte “Las Aventuras del Capitán Alatriste”. A produção espanhola de 2006 é o filme mais caro da história do cinema no país e ganhou o prêmio Goya, que é o Oscar do reino de Juan Carlos e Sofia. E é mais um caso de filme lançado direto em DVD no Brasil. Porém já é exibido pelos canais Telecine. Viggo Mortensen (o Aragorn de O Senhor dos Anéis) é o capitão Diego Alatriste. O ator fala fluentemente espanhol, porque morou na América do Sul quando mais jovem (na Argentina ou Chile, sei lá).
O capitão Alatriste retorna a Madri, após lutar na guerra da Espanha contra Flandres, para enfrentar novas disputas sangrentas intimamente ligadas a intrigas palacianas da nobreza, do clero e até do próprio Rey. A história se passa na Espanha do século XVII - o meu favorito! Mesma época de "Os Três Mosqueteiros" e "Cirano de Bergerac". O tempo de Vermeer, Rembrandt, René Descartes, Blaise Pascal, Isaac Newton, Luiz XIV (O Rei Sol), Racine e Molière, o "Siglo de Oro" da Espanha, a Restauração britânica, a guerra para expulsar os holandeses do Nordeste do Brasil. O período áureo da Europa. Literalmente, pois estava cheia do ouro roubado das Américas. A riqueza do ouro circulou ao custo incalculável de sangue, mas propiciou riquezas artísticas e intelectuais inestimáveis.

Viggo Mortensen em Alatriste (bruto com a espada, mas sabe ler!)
Viggo Mortensen em Alatriste (bruto com a espada, mas sabe ler!)

Uma cartilha visual do século 17

A direção de arte (Benjamin Fernández) de Alatriste é espetacular. Parece querer reproduzir quadros de Velazquez e El Greco. Destaque para a caracterização do rei espanhol (Filipe IV, se não me engano). Impressionante. Parece que estamos no Museu del Prado e ele veio caminhando calmamente de dentro da tela. Figurino e adereços (Francesca Sartori) super detalhados. Tem uma cena do personagem título abotoando a bota. Uma tarefa complicadíssima que a câmera mostra numa longa sequência em close. E as roupas e espadas são um detalhe a parte. Cada levantada de capa revela um bordado no gibão, incrustrações da empunhadura ou bainha da espada. Um luxo de fazer a Rosa Magalhães se arrepiar.
A fotografia (Paco Femenia) tem cores bem austeras, coerentes com a Espanha da época, que reagia severamente aos avanços da Reforma Protestante na Europa. As sequências de duelos são totalmente teatrais. Parecem mesmo encenadas num palco.
(Melhores) momentos de sangue + facadas
O suicídio do português. A facada da bela fidalga na perna do amante. O cara que morre esfaqueado zilhões de vezes por Alatriste, pois queria roubar parte do tesouro que os dois vieram proteger.
(Melhores) bizarrices
A tia maconheira do filme Volver, do Almodóvar, que faz papel do Inquisidor Emilio Bocanegra... Sinistra.
Mas não tenho palavras para o bigodão do Viggo...
Amor
E olha... tem muita porrada e sangue mas tem amor também, tá?
Tem vestidos, jóias e homens lindos, graças a deus.

Angélica de Alquézar é Elena Anaya, atriz e amante de Alatriste
Angélica de Alquézar é Elena Anaya, atriz e amante de Alatriste

Links para saber mais


Site oficial do filme
Obs. na última vez em que visitei, em 23/08/2008, estava indisponivel (!!) :(
Pena, porque o site era bem bonito. E a calda longa, irmão... e a calda longa?

Sendo assim... vamos de Wikipedia

Site oficial dos livros/autor

Trailer no Youtube

http://www.youtube.com/watch?gl=BR&hl=pt&v=vAcrIr84OdQ


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* Recomendações Top5 filmes sobre o século 17

1 - Restauration (O Outro Lado da Nobreza), com o maravilhoso Robert Downey Jr. e Sam Neill (excelente como o rei Charles II). O DVD está fora de catálogo (!!) :(

2 - Cirano de Bergerac, com Gerard Depardier (perfeito!)
3 - Alatriste
4 - Moça do Brinco de Pérola, com Scarlett Johanssen e Colin Firth. Uma fantasia belíssima em torno da obra de Vermeer.
5 - Tous le matin du monde (Todas as manhãs do mundo), de Alain Corneau (1991), com Gerard Depardieu. Esse é difícil de achar. Nunca encontrei em DVD e nem na TV por assinatura. É um maravilhoso retrato da cena musical francesa no final do século 17. Baseado no também belíssimo livro de Pascal Quignard (autor da frase "escrever é ouvir a palavra perdida"), o filme gira em torno dos compositores Sainte Colombe e Marin Marais (Depardieu), que criaram peças lindas para viola da gamba (tipo um ancestral do violoncelo).